A pandemia colocou diante dos olhos da humanidade diversas pobrezas: as humanas, socioculturais, dentre outras. Para iluminar este cenário com a Palavra de Deus é importante observar a história de Israel: Em 1.200 a.C, houve o êxodo, a saída do Egito, e este evento mostrou que o Senhor permanece com seu povo e o liberta da escravidão. Passando-se os anos o povo de Israel se consolidou e se tornou mais rico economicamente, mas sua relação com Deus se tornou mais pobre. No ano de 587 a.C o movimento do povo foi ao contrário, isto é, passou da liberdade para escravidão. Estando exilado em Babilônia fez memória de sua história, e ao olhar para os fatos passados percebe onde começam os contratempos que afastou o povo de seu Senhor, desta forma reescreveu a história à luz da experiência de pobreza que estava mergulhado.
Assim, o que este tempo de pandemia está a ensinar para a catequese, para os catequistas e para todos que se dedicam à missão de catequizar? Primeiramente, houve uma autodescoberta como catequista, de sua missão, além de mostrar que estávamos muito preocupados em transmitir conteúdos de catequese. Também surge outro questionamento: O que a pandemia revelou ao nos colocar distantes dos catequizandos? Ela revelou o amor que temos por aqueles a quem Deus nos confiou, logo se notou diversos esforços para ser presença, estar próximos deles através de meios diversos, mas também mostrou catequistas que apenas exercem um cargo em suas comunidades, pois até agora estão esperando a pandemia passar para ver o que fazer. Desta forma, muitos catequistas se descobriram neste tempo.
Insistentes temos propagado em nossa Diocese de Cametá que “ser catequista é transmitir a fé”, conforme diz o Diretório Nacional de Catequese: “O catequista experimenta a Palavra de Deus em sua boca, à medida que, servindo-se da Sagrada Escritura e dos ensinamentos da Igreja, vivendo e testemunhando sua fé na comunidade e no mundo, transmite para os irmãos essa experiência de Deus.” (DNC, n° 27). Assim queremos reafirmar que ser catequista é uma missão, é um chamado que tem como propósito fazer ecoar a Palavra de Deus. Por isso, somos catequistas em todos os momentos de nossas vidas e não apenas quando estamos reunidos no encontro catequético.
Em tempo pandêmico nosso ser catequista deve estar muito mais evidente. Mas uma pergunta perpassa o coração de muitos catequistas: “Como anunciar Jesus neste tempo de restrições?”. A resposta é simples: É a experiência pessoal com o Ressuscitado que fará com que o amor que temos por Ele cresça em nosso coração e, por conseguinte vão se encontrando os meios e maneiras para anuncia-Lo. Se a pandemia impôs tantas limitações, ela jamais conseguirá impor limites no amor do catequista por seus catequizandos. Eis a base da espiritualidade do catequista. Paixão e ternura são lições que descobrimos neste tempo pandêmico. Todavia se nos faltar espiritualidade, estas lições óbvias serão esquecidas. Algumas características dos catequistas que precisam estar evidentes:
a) Ser perseverante e, por conseguinte ser exemplo de fé;
b) Não desistir da missão, por isso é importante ser catequista e não estar catequista;
c) Ser criativo, por exemplo, fazer vídeos, áudios catequéticos, utilizar ligações telefônicas. Que tal
escrever uma carta de próprio punho para o catequizando? Que tal contar as histórias e parábolas
bíblicas do seu jeito e mandar para os catequizandos?
d) Manter o vínculo com a comunidade cristã;
f) Cultivar a paixão e a ternura, pois não existe evangelização sem afeto, como quer nos ensinar o Papa Francisco na Exortação Evangelii Gaudium, é preciso que usemos da ternura humana para transmitir os carinhos de Deus.
Por isso, é necessário que sejamos catequistas e não um professor de catequese. Basta olhar para o que falou o Papa Francisco em 2013: “Mas, por favor, não se compreende um catequista que não seja criativo. A criatividade é como que a coluna do ser catequista. Deus é criativo, não se fecha, e por isso nunca é rígido. Deus não é rígido! Acolhe-nos, vem ao nosso encontro, compreende-nos. Para sermos fiéis, para sermos criativos, é preciso saber mudar. Saber mudar. E porque devo mudar? É para me adequar às circunstâncias em que devo anunciar o Evangelho”. Este é o segredo para a catequese neste tempo pandêmico e para toda nossa caminhada catequética.
Sendo assim, seguem algumas sugestões de como desenvolver a catequese neste tempo pandêmico:
1. Oração – Buscar meios de como rezar com seus catequizandos, independente da idade. Onde há possibilidade de utilizar os recursos virtuais, as redes sociais, este deve ser o principal instrumento para se reunir em grupos;
2. Dialogar – Com os devidos cuidados manter contato com os familiares dos catequizandos, dando preferência às ligações telefônicas, onde for possível, pois assim tomaremos consciência de como podemos ajudá-los uma vez que os catequizandos estão mais tempo em casa;
3. Catequese familiar – O catequista propõe aos pais a sua colaboração para a realização da catequese familiar, dando orientações de como realizá-la. Desta forma, temos a oportunidade de catequizar os pais e estes catequizarem os filhos;
4. Atualização – O catequista não pode descuidar de sua formação continuada, por isso é preciso aprofundar sobre sua vocação e missão, estudando, por exemplo, o Catecismo, os diretórios de Catequese, aprofundar a leitura da Bíblia, cultivar a oração e a meditação da Palavra de Deus;
5. Pesquisar – Buscar diversos meios que poderão contribuir para desenvolver subsídios que ajudarão com propostas, atividades, materiais, etc., para realizar a catequese nesta nova modalidade. E estes ajudarão a criar materiais para a catequese presencial assim que retornar;
6. Caridade – Estar atento com as necessidades dos irmãos, de modo particular aqueles que sofreram impacto direto com a pandemia.
É válido ressaltar que neste tempo pandêmico é importante: Manter contato com os catequizandos, aqueles que têm possibilidade de realizar que sejam feitas lives; Os temas propostos nos manuais/livros de catequese podem até ser introduzidos, contudo, nem tanto para ser conteúdo a transmitir, mas para cultivar a espiritualidade, e por agora desenvolver aproximações, avizinhamentos, combinados com espiritualidade, para não cairmos no esquema escolar: presença – pergunta – saber – não saber, insiste Dom José Antônio Peruzzo.
Dom José Antônio Peruzzo, bispo presidente da Comissão para a Animação Bíblico Catequética da CNBB, em live no dia 01/03/2021, no canal do Youtube do Regional Sul 2, afirma: “Catequese não é uma matéria a ser dada na sala de aula, como se fosse só uma sala de aula, mais
que motivação não seja uma espécie de dever a cumprir, mas uma paixão a partilhar (…) Catequese não dá pra amar só com conteúdo e lições (…) catequese é partilhar a pessoa de Jesus Cristo, tem que olhar nos olhos, afagar, ter encanto, se for para uma tabuada religiosa, a gente faz EAD”.
Continuemos pedindo a ação do Espírito Santo, o Consolador, que inflame em nosso coração o desejo de continuar firmes na missão de fazer ressoar a Palavra de Deus.
Diácono Javé de Oliveira Silva