Diocese de Cametá

“Todos ficaram cheios do Espírito Santo” (Atos 2,4).

  Uma das importantes festas do Calendário Litúrgico se celebra cinquenta dias após o domingo da Páscoa. Falamos da Solenidade de Pentecostes, onde a Igreja recebe o Espírito Santo e se manifesta ao mundo, difundindo o Evangelho para todos os povos. 

   Evidentemente, que o Espírito Santo, como explica o decreto do Vaticano II Ad Gentes, mesmo antes da Ressurreição gloriosa do Cristo já estava atuando no mundo, todavia, no Pentecostes veio para ficar para sempre e, porque não dizer que o tempo da Igreja no mundo é o Tempo do Espírito Santo agindo na sua Santificação, pois, “é o Espírito Santo que sustenta a Igreja de todos os tempos” (AG, n. 04) tornando-a frutuosa nos ministérios, dons e carismas, enchendo o coração dos fiéis com o ardor missionário que vem do próprio Jesus, o enviado do Pai. 

   Podemos ainda dizer, citando a exortação apostólica Evangelii Gaudium do Papa Francisco que “o Espírito Santo enriquece toda a Igreja evangelizadora também com diferentes carismas. São dons para renovar e edificar a Igreja” (EG, n. 130). E falando do aspecto comunitário e eclesial desses dons, que são dádivas do Espírito Santo e que não é um “patrimônio fechado, entregue a um grupo para que o guarde; mas são presentes do Espírito integrados no corpo eclesial, atraídos para o centro que é Cristo” (EG, n. 130), aprendemos então que os dons do Espírito devem ser para o bem de toda a comunidade e os carismas devem proporcionar uma autêntica vivência em comunidade, como ensina os Atos dos Apóstolos (4,32): “eram um só coração e uma só alma”. Contudo, essa ideia é bem explicitada na exortação do Papa quando diz que: “Um sinal claro da autenticidade de um carisma é a sua eclesialidade, a sua capacidade de se integrar harmoniosamente na vida do povo santo de Deus para o bem de todos” (EG, n.130). 

   Voltemos à origem da festa de Pentecostes, direcionando nossos olhos para o Antigo Testamento, onde se relacionava essa festa com as colheitas (Lv 23,15ss). Celebrava-se agradecendo a Deus pela colheita dos grãos, mas também, recorda o dia em que Moisés subiu ao monte e recebeu de Deus as Tábuas dos Mandamentos, a Lei de Deus (Ex 20). Nessa festa, Deus não deixava de olhar para a necessidade dos pobres e estrangeiros (Lv 23,22), por isso, era prescrito em sua Lei que não podia ser colhido todos os grãos e catadas todos as espigas, pois deveria ser deixado para os pobres e estrangeiros, com isso, Deus se revelava como o Senhor dos pobres e desvalidos. 

   São os pobres que aparecerão como os diletos do anúncio do Evangelho, quando Jesus na Sinagoga de Nazaré, com a unção do Espírito Santo disse que “o Senhor me enviou para anunciar a Boa-Nova aos pobres” (Lc 4,18). E como, posteriormente, veremos no grupo escolhido por Jesus e estarão reunidos no dia de Pentecostes que são pessoas simples e pobres. É sobre eles que o Espírito Santo vem, ratificando a afirmação de que o Espírito Santo é o “Pai dos pobres”, conforme verso de um canto popular, muito cantado no dia de Pentecostes. 

   Mesmo desprovidos de uma capacidade intelectual ou do conhecimento das letras, a vinda do Espírito Santo impulsiona os discípulos a vencerem o medo e qualquer outra barreira e, a se revestirem de uma força missionária que os levavam a anunciar as maravilhas de Deus para todos os povos. O Espírito da verdade, promessa do Cristo, agora, os torna anunciadores da novidade do Reino de Deus: “Convertei-vos e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para o perdão dos vossos pecados. E recebereis o Dom do Espírito Santo” (At 2,38). Esse anúncio gerava um verdadeiro encantamento que levava aos interlocutores dos discípulos de Jesus a abraçarem a fé e seguir o Caminho. 

   Este mesmo encantamento de outrora, deve ser vivenciado, hoje, na missão da Igreja. Para isso, precisamos experimentar um novo Pentecostes ou um permanente Pentecostes, saindo de nossa tibieza pastoral e começarmos a enfrentar os desafios do tempo presente renovando a nossa esperança e alegria. 

   Por isso, se faz urgente o clamor da Igreja orante, pedindo o fogo do Espírito, renovando o ardor missionário para que o Evangelho seja anunciado e acolhido. Precisamos da novidade de Pentecostes para nos sentirmos discípulos-missionários de uma Igreja em Saída. É atual o apelo do Documento de Aparecida (n. 548) quando nos diz que “Necessitamos sair ao encontro das pessoas, das famílias, das comunidades e dos povos para lhes comunicar e compartilhar o dom do encontro com Cristo que tem preenchido nossas vidas de ‘sentido’, de verdade e de amor”. 

   Portanto, para que Pentecostes seja entendido, celebrado e vivenciado é preciso que estejamos abertos, sem reservas, para aquilo que o Espírito Santo deseja realizar por meio de nós, no mundo. E o Pentecostes, o derramamento do Espírito, se faz extremamente necessário, pois, ainda estamos em tempos de tanta frieza e acomodação, tantas desilusões, cansaços e descrenças. Precisamos ser conduzidos pelo Santo Espírito para anunciar as maravilhas de Deus, renovando nossa esperança no triunfo da vida. “É o Espírito Santo que nos dá força para anunciar a novidade do Evangelho com ousadia (parresia), em voz alta e em todo o tempo e lugar, mesmo contracorrente” (EG, n. 259). É isso que significa viver: um novo Pentecostes!

Pe. Sandro Giovani 

Novo Pentecostes para uma igreja em saída