
“Somos todos discípulos missionários em saída”
Querido povo de Deus da Diocese de Cametá,
Viva a sinodalidade e a comunhão em nossa Igreja!
A Igreja na América Latina e no Caribe tem uma rica e histórica experiência marcada pelas Conferências Gerais do Episcopado Latino–Americano e do Caribe, que de certo modo define o rosto de uma Igreja comprometida com as lutas dos povos deste continente. Ao procurar unir fé e vida, no processo de evangelização, a Igreja se preocupa com uma liturgia inculturada, com respeito às diferentes culturas, e defende a vida dos povos e de nossa Casa Comum.
Desde 1955 até hoje foram realizadas cinco Conferências Gerais do Episcopado Latino–Americano e do Caribe, a saber:
I Conferência Geral Episcopal Latino–Americana realizada em 1955, no Rio de Janeiro;
II Conferência Geral Episcopal Latino–Americana realizada em 1968, em Medelín;
III Conferência Geral Episcopal Latino–Americana realizada em 1979, em Puebla;
IV Conferência Geral Episcopal Latino–Americana realizada em 1992, em Santo Domingo;
V Conferência Geral Episcopal Latino–Americana realizada em 2007, em Aparecida.
A PRIMEIRA dessas Conferências realizou–se no Rio de Janeiro (Brasil), de 25 de julho a 04 de agosto de 1955. Encontrávamos numa fase pré–conciliar. A preocupação era muito voltada para Igreja ad intra: a escassez de sacerdotes, a ignorância religiosa do povo, as missões entre os infiéis. A decisão mais importante dessa Conferência foi o pedido do Papa Pio XII para se criar um organismo que pudesse unir mais as forças da Igreja na América Latina. Foi aí que surgiu a ideia do CELAM (Conselho Episcopal Latino–Americano). O Papa aprovou o pedido em 2 de novembro de 1955.
A SEGUNDA, aconteceu em Medelín (Colômbia), de 26 de agosto a 04 de setembro de 1968. Essa Conferência nos deu 16 documentos. Fez uma releitura do Vaticano II para a América latina e o Caribe. A característica de Medelín é marcada pela situação de um mundo subumano. A visão do Vaticano II foi uma visão otimista e a palavra–chave era “desenvolvimento”, como fica claro na Carta Encíclica de Paulo VI Populorum Progressio, o desenvolvimento individual e solidário da humanidade. Os documentos mais marcantes de Medelín são Justiça, Paz, Pobreza da Igreja.
A TERCEIRA Conferência foi em Puebla (México), de 27 de janeiro a 13 de fevereiro de 1979. Ela vai dar continuidade a Medelín. A base de toda reflexão foi a Exortação Apostólica Evangelli Nuntiandi, de Paulo VI, de 08 de dezembro de 1975. Puebla fez uma releitura deste Documento. O tema de Puebla foi a evangelização no presente e no futuro da América Latina. A grande questão: qual o mundo que a Igreja deve evangelizar? Com que mundo a Igreja, em nome do Evangelho, se deve comprometer? Em outras palavras, como atuar pastoralmente na América Latina em total fidelidade ao Evangelho? Quais os critérios e as linhas de uma verdadeira e autêntica evangelização para a América Latina? Quais as opções pastorais fundamentais para que o Evangelho seja um acontecimento atual e presente com toda a sua vitalidade e força original? Perguntas que hoje precisamos fazê–las novamente e procurar respostas a partir da realidade atual, diante da maneira como estamos evangelizando. O destaque do documento de Puebla é a IV parte, em que, além da opção preferencial pelos pobres, da opção preferencial pelos jovens e da ação da Igreja junto aos construtores da sociedade pluralista na América Latina, se trata de modo muito especial dos direitos fundamentais do ser humano, direitos individuais, direitos sociais, dentre outros.
A QUARTA Conferência foi em Santo Domingo (República Dominicana), de 12 a 28 de outubro de 1992. Apenas recapitulando, se em Medelín a palavra–chave era libertação, em Puebla, comunhão e participação, em Santo Domingo era inculturação. Esta Conferência deu atenção especial à promoção
humana, e isto a pedido do próprio Papa João Paulo II, devido à necessidade de todos se sentirem e agirem como “gente”. A vivência da cidadania é requisito para uma efetiva comunhão e participação libertadora. E, para que haja uma autêntica promoção humana, é preciso levar em conta as diferentes culturas presentes na América Latina e no Caribe – nessa conferência se começou propriamente dito a participação do Caribe, junto com a caminhada da América Latina.
A QUINTA Conferência se deu em Aparecida (Brasil), de 13 a 31 de maio de 2007. A Conferência procurou responder à pergunta: como ser Igreja na atual situação da América Latina? Para tanto, analisou a realidade social, econômica, política, cultural, religiosa e eclesial do continente. Confrontou–a com a perspectiva teológica escolhida, a saber: como ser discípulo missionário em tal contexto histórico. E terminou com propostas de ação pastoral. Assumiu–se o método ver–julgar–agir. O Documento final destacou três eixos: num primeiro os bispos olharam, já na perspectiva da fé em Jesus Cristo, para realidade sociocultural, econômica, política e eclesial. Num segundo, o juízo teológico, constitui na elaboração de uma teologia e de uma eclesiologia, encontro pessoal com Jesus Cristo e o envio para ser missionário do Evangelho da vida. E a Igreja foi apresentada como aquela que oferece os centros de comunhão para o fiel viver a fé e um itinerário formativo, inspirado no caminho neocatecumenal, apontando os principais lugares para a realização de tal formação. A terceira parte orientou–se para o agir pastoral. A missão da Igreja, e particularmente do cristão, consiste em anunciar a nossos povos a vida nova em Cristo.
A conclusão do documento retomou incisivamente a ideia central de “despertar a Igreja na América Latina e Caribe para um grande impulso missionário”. No horizonte está “uma grande Missão Continental”, cujo projeto e desejo o texto mencionou em vários momentos.
Com esta breve síntese das cinco Conferências, venho lembrar que já se passaram quatorze anos que aconteceu a Conferência de Aparecida, e o Papa Francisco, em suas palavras de apresentação da Assembleia Eclesial, diz: “Queremos fazer memória de Aparecida, da V Conferência Geral do Episcopado Latino–americano, da qual ainda temos muito a aprender”.
Motivação para a 1ª Assembleia Eclesial: O Conselho Episcopal Latino–americano (CELAM), apresentando ao Papa Francisco a intenção de uma VI Conferência do Episcopado Latino–americano, recebe do Papa uma proposição de que seja feita uma Assembleia Eclesial, “um encontro do Povo de Deus”, assim Francisco definiu a Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe. Um espaço onde “rezamos, falamos, pensamos, discutimos, procuramos a vontade de Deus”.
A Assembleia Eclesial acontecerá de 21 a 28 de novembro de 2021, na Cidade do México, porém sua modalidade contemplará os dois aspectos, presencial e virtual, sendo o primeiro para um grupo menor na referida Cidade do México, junto à Virgem de Guadalupe. O processo de preparação será feito a partir de uma ampla escuta, para discernirmos juntos a vontade de Deus. A Assembleia será realizada no horizonte das duas grandes celebrações fundadoras: os 500 anos do evento Guadalupano em 2031 (a última aparição de Nossa Senhora de Guadalupe a Juan Diego, foi aos 12 de dezembro de 1531) e os 2.000 anos do evento redentor de Jesus Cristo, em 2033. Neste itinerário para 2031, vamos recordar que Nossa Senhora de Guadalupe apareceu a Juan Diego, representante dos povos originários e de todos os pobres da América Latina e Caribe. Ao mesmo tempo o caminho para 2033 vai nos ajudar a recordar que Jesus se entregou na cruz, unindo o que era dividido (Ef 2,14). Em continuidade com as cinco Conferências Gerais do Episcopado Latino–Americano, desde de Medelín até Aparecida iremos utilizar no documento de preparação da Assembleia Eclesial, o método pastoral VER, JULGAR ou ILUMINAR e AGIR, como indica o documento conclusivo de Aparecida: “contemplar com os olhos da fé através da sua Palavra… olhar para os sinais dos tempos com os olhos da fé”. (DAp 19).
Processo de preparação da Assembleia Eclesial – o CELAM apresenta dois documentos como base de orientação, ou melhor de motivação: “DOCUMENTO PARA O CAMINHO”, com três capítulos, 1º cap. “A vida dos nossos povos na América latina e no Caribe (VER); o 2º cap. “Do encontro com Jesus Cristo, a vida dos nossos povos é iluminada” (ILUMINAR); e o 3º cap. “No caminho da conversão pessoal, comunitária e social (AGIR). O outro documento trata–se do GUIA METODOLÓGICO, trazendo em seu conteúdo todo processo de escuta e sua sistematização.
A Assembleia Eclesial almeja responder a seguinte questão: Quais são os novos desafios para a Igreja na américa Latina e no Caribe, à luz da V Conferência Geral de Aparecida, dos sinais dos tempos e do Magistério do Papa Francisco, a caminho de 2031 e 2033? Neste sentido o processo de realização da Assembleia, almeja:
- Reacender na Igreja uma nova maneira, apresentando uma proposta restauradora e regeneradora;
- Ser um evento eclesial com chave sinodal, e não apenas episcopal, com uma metodologia representativa, inclusiva e participativa;
- Fazer uma releitura agradecida de Aparecida que possibilite gerenciar o futuro;
- Ser um marco eclesial que consiga relançar grandes temas ainda em vigor, que surgiram em Aparecida, e voltar a temas e agendas marcantes.
- Reconectar as cinco Conferências Gerais do Episcopado Latino–americano e Caribe, ligando ao magistério latino–americano do Papa Francisco, ressaltando três marcos: de Medelín à Aparecida, de Aparecida à Querida Amazônia, da Querida Amazônia ao Jubileu Guadalupano e da Redenção, em 2031 e 2033.
O tema da Assembleia: “Todos somos discípulos missionários em saída”, “é um forte apelo aos que professam a fé cristã católica”, como disse Dom Walmor, presidente da CNBB. Já o cardeal Rodriguez Maradiaga vê a Assembleia como “uma proposta restauradora e regeneradora, que vai além do episcopal para se tornar sinodal, com uma metodologia representativa, inclusiva e participativa, como foi o Sínodo da Amazônia”.
Juntos, vivamos a cada dia o processo transformador da sinodalidade e da comunhão em nossa Igreja.
Cametá–Pa, 12 de maio de 2021.
Dom José Altevir da Silva, CSSp
Bispo Diocesano de Cametá